A pesquisa busca desenvolver uma abordagem antropológica para a aceleração dos processos de digitalização de organizações e comunidades religiosas no Brasil após a pandemia de Covid-19. O trabalho se debruça sobre como a nova infraestrutura comunicativa e seu mercado emergente são absorvidos pela comunidade cristã evangélica. Destaca-se que mais do que uma colonização do cristianismo por forças exógenas associadas a tecnologias de mídia e ao capitalismo informacional, essas novas redes tecno-religiosas sublinham os vínculos genéticos articulando religião, mediação e economia.

O desenvolvimento dos trabalhos se deu através de programas de leitura da literatura especializada, seminários de debate, entrevistas semi-estruturadas com os interlocutores, gravadas para posterior transcrição, análises etnográficas aprofundadas, fichamentos de ideias e discussões sobre as temáticas.

Dos resultados obtidos, percebe-se que a questão articula de forma complexa certos elementos do social, como o sentido de religião e o significado de 'Igreja', 'ministério' e outras categorias cristãs, a relação entre religião e mídia, e entre religião e economia ou mercado, em uma trama que desafia certas narrativas hegemônicas sobre o papel, a função e a articulação entre esses elementos na atual sociedade brasileira.

Conclusão: a compreensão do cristianimo na era digital requer maior atenção crítica à normatividade secular da teoria social clássica, incluindo suas noções de religião, tecnologia e economia como domínios distintos da vida social. Ideias como a de religião-enquanto-mídia/mediação, teologia econômica e economias morais ajudam a evitar pressupostos materialistas do determinismo tecnológico e econômico e pensar a emergência das igrejas digitais e seus mercados a partir das categorias religiosas acionadas nos meios cristãos. Desta forma, o projeto de pesquisa colabora para a tarefa maior de refletir criticamente sobre outras formas de manifestação da religião na esfera pública.