Os estudantes universitários relatam barreiras para incorporação de hábitos alimentares mais saudáveis, tais como a ausência de habilidades e de conhecimentos culinários. Nesse contexto, o campus universitário tem sido reconhecido como um ambiente importante para implementação de políticas públicas que visem a promoção da alimentação saudável. Inclusive, essa promoção é enfatizada em diversos documentos oficiais e políticas públicas no Brasil, destacando-se o Guia Alimentar para a População Brasileira (GAPB) e o Marco de Referência de Educação Alimentar e Nutricional (EAN). Esses documentos ressaltam a valorização da culinária como elemento promotor da alimentação saudável. Ao mesmo tempo, tem sido observado que o aumento do consumo de alimentos ricos em gorduras, açúcares e sal está relacionado com o crescimento da realização de refeições fora de casa, bem como à diminuição do preparo de refeições em casa. O possível distanciamento da prática culinária pode contribuir para a promoção de hábitos alimentares menos saudáveis. O Programa Nutrição e Culinária na Cozinha (NCC) é uma intervenção culinária com estudantes universitários, sendo o primeiro programa desenvolvido e aplicado no país com foco no desenvolvimento de habilidades culinárias (HC) por meio de oficinas culinárias práticas. Nesse contexto, o projeto visou investigar a percepção de estudantes universitários sobre o efeito do programa NCC nas práticas alimentares após três anos de intervenção. Trata-se de um estudo qualitativo do tipo observacional, transversal e descritivo. Foram realizadas entrevistas online com estudantes universitários de uma universidade pública do sul do Brasil que participaram da Fase 1 (2016) e da Fase 2 (2019) do programa NCC. Utilizou-se roteiro semiestruturado com perguntas relacionadas aos fatores que facilitam e dificultam o preparo de refeições em casa, como foi a experiência em participar da oficina culinária de reciclagem dos conhecimentos culinários (ORCC), se os conhecimentos adquiridos nas oficinas foram compartilhados com outras pessoas e se houveram alterações na alimentação após a intervenção. As entrevistas foram transcritas verbatim e submetida à análise temática. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da UFSC. Entre os efeitos da intervenção, foram observadas aquisição de hábitos saudáveis como ir à feira, análise de rótulos, aumento do consumo de frutas, legumes e verduras e, ainda, diminuição do consumo de alimentos ultraprocessados. Além disso, a participação no programa proporcionou aos estudantes autonomia frente à seleção e preparação dos alimentos, gerando maior confiança e motivação para o preparo de refeições em casa. A ORCC foi relatada pelos participantes como um meio de relembrar e adquirir novos aprendizados de termos e técnicas culinárias, estimulando comportamentos e escolhas alimentares mais saudáveis. Assim, o estudo auxiliou com informações associadas aos efeitos em longo prazo de intervenções que visam estimular a confiança e os conhecimentos sobre HC. Os resultados podem fornecer subsídios para o avanço de políticas públicas em Alimentação e Nutrição no país, por meio da valorização da culinária. E ainda, por estar baseado em princípios norteadores em alimentação saudável, o programa NCC pode ser adaptado para outras populações e situações de saúde.